Praticagem ressalta confiabilidade do sistema de calado dinâmico implantado no Rio e em Santos
Representantes da praticagem defenderam, na última sexta-feira (11), o uso do sistema de calado dinâmico que está sendo implementado no Porto do Rio de Janeiro para auxílio no gerenciamento de manobras na entrada e saída de navios. Já em uso contínuo em Santos, o ReDraft é considerado uma importante ferramenta operacional que traz segurança à navegação e aumenta competitividade dos portos. A solução, desenvolvida pela empresa Argonáutica, também está em fase inicial no Porto de Suape (PE).
Para Praticagem do Rio de Janeiro, o sistema contribui para o monitoramento das condições de segurança da navegação, com parâmetros objetivos para proposição de restrição do acesso pela Barra Grande (Canal de Santa Cruz). A solução está em processo de validação pela Marinha e, após a ratificação pela autoridade marítima, poderá ser usada como ferramenta de apoio à decisão operacional sobre aumento do calado para navegação. Atualmente, a praticagem no Rio custeia a aplicação do software com recursos próprios. O supervisor de operações da Praticagem-RJ, Ricardo Lindgren, destacou a confiabilidade do sistema. “Orientamos navios maiores para passarem em maiores profundidades com mais segurança”, afirmou Lindgren, durante seminário “ReDraft no Porto do Rio e as experiências no Porto de Santos” promovido pela Associação dos Usuários dos Portos do Rio de Janeiro (Usuport-RJ).
Utilizando o sistema como um dos auxílios e duas boias, a Praticagem-RJ realizou, inicialmente, 312 manobras críticas e depois outras 60 com as boias reposicionadas. Nas primeiras medições, a praticagem verificou que, para 6, 8 e 10 nós de velocidade, a maioria dos calados dinâmicos medidos pelo ReDraft era maior que os calado estáticos. Lindgren ressaltou que também houve ocorrências de valores de calado estático maior que o calado dinâmico, o que poderia representar potenciais riscos de acidentes. Ele explicou que, se o sistema estivesse validado e em uso em alguns desses casos, a navegação pela Barra poderia ser restringida.
Entre os dias 15 e 19 de abril, a entrada do Porto do Rio precisou ficar restrita a calados de 11,50 metros, devido à ressaca. Na ocasião, uma instrução normativa da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) determinou calado máximo de 12,60m na Barra Grande, no caso de porta-contêineres, e de 11,50m para demais navios. Por meio de uma parceria com a Multiterminais e a Libra existem porta-contêineres com calado acima de 12,60m que entram pelo acesso conhecido como Ilha de Cotunduba, já monitorado pelo sistema Redraft.
Implantado em 2016, o ReDraft está em uso contínuo no Porto de Santos. O assessor técnico-marítimo da Praticagem de São Paulo, Viriato Geraldes, disse que Santos já opera navios com 340 metros de comprimento e boca de 48 metros e que, até 2019, é esperada a chegada de navios com 366m de comprimento e 51m de boca no porto santista. Ele explicou que o navio sofre uma série de efeitos físicos e técnicos que interferem no tamanho do calado. Geraldes explicou que 10 centímetros de calado equivalem a aproximadamente 1.000 toneladas de capacidade ou 65 contêineres a mais que podem ser transportados.
Ele contou que, em Santos, a praticagem já manobrou grandes navios com 14,20 metros de calado e folgas abaixo da quilha de 30 centímetros em mar aberto, na parte de fora do canal. O ReDraft aponta para o usuário da ferramenta, dentro do critério estabelecido pela autoridade marítima, qual é a margem de segurança que ele vai ter em determinada manobra. “Ele vai definir em que ponto ocorrerá menor folga embaixo da quilha e de quanto será essa menor folga abaixo dela”, explicou.
Em 2017 foram executadas 1635 manobras com calado acima de 12 metros no Porto de Santos e a expectativa é chegar próximo de 2000 manobras em 2018. Em 2016 esse número foi de 1.310 manobras de navios com essa faixa de calado. Com novo sistema, a restrição de calado em Santos caiu de sete dias, 6 horas e 25 minutos em 2015 para quatro dias, 13 horas e 50 minutos em 2016; e dois dias, 17 horas e 10 minutos no ano passado. Hoje, o calado médio autorizado de Santos é 13,20m (zero DHN) e 14,20 metros com altura de maré de um metro.
O Conselho Nacional de Praticagem (Conapra) lembrou que a movimentação de cargas nos portos nacionais foi da ordem de um bilhão de toneladas, com projeção de esse volume dobrar nos próximos 10 a 15 anos. O diretor-presidente do Conapra, Gustavo Martins, alertou que essa adaptação envolve investimentos em novas instalações portuárias e em berços de atracação, além da dragagem e manutenção dos canais e bacias de evolução para recebimento de navios de dimensões maiores que as atuais. Ele acrescentou que faltam investimentos em sensores e na capacitação de pessoas. “Precisamos de sistemas que permitam uso da infraestrutura de canais que temos”, comentou.
A associação que representa os usuários dos Portos do Rio considera que o porto necessita de um sistema que reúna as melhores condições operacionais que ele possa ter. “Quanto mais eficiente o porto, mais o usuário ganha”, disse o diretor-presidente da Usuport-RJ, André de Seixas, durante o seminário. O vice-presidente da Associação Internacional de Práticos (IMPA), Ricardo Falcão, avaliou que o ReDraft não deve a nenhum sistema semelhante existente no mundo. “É uma ferramenta que veio para ficar. Vamos expandir esse modelo para o Brasil inteiro”, acredita.
Fonte: Portos e Navios